Este espaço foi criado com todo carinho e cuidado e é dedicado não só a crianças, mas também aos adolescentes e a todos que interessarem. Aqui é um lugar em que será explorado o que nossa literatura infantil e infanto-juvenil oferece.
Sejam bem-vindos! Boa leitura e divirtam-se!
“A Moça Tecelã”
Marina Colasanti
“Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.
Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.
Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.
Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.
Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.
Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado.
Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponto dos sapatos, quando bateram à porta.
Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando em sua vida.
Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.
E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.
— Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher.
Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente.
— Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou. Sem querer resposta imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.
Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços arrematar o dia.
Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.
— É para que ninguém saiba do tapete — ele disse. — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!
Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados.
Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha de novo.
Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear.
Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido.
A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura, acordou, e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo.
Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte.”
O que é um conto?
A origem da palavra conto estaria na forma latina commentu (m), com o significado de “invenção”, “Ficção”. O conto é uma obra de ficção que cria um universo de seres e acontecimentos, de fantasia e imaginação. Como todos os textos de ficção, o conto apresenta um narrador, personagens, ponto de vista e enredo. O conto se define pela sua pequena extensão, mais curto que uma novela e o romance, tem uma estrutura fechada e a história tem apenas um clímax. Os contos de fadas são uma variação do conto popular ou da fábula, é uma curta história. Os contos de fadas muitas vezes começam com “Era uma vez...”.
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Entendendo o texto
1) Se você tivesse o poder de tecer alguma coisa, o que você teceria?
1) A expressão “É um ovo de tico-tico” é citada no texto, você a conhece? Qual expressão poderia ser utilizada para substitui-la? Justifique.
Vimos na crônica “Carta a uma senhora” de Carlos Drummond de Andrade e no conto a “Moça Tecelã” de Marina Colasanti, que o consumismo se faz presente em nossos dias, atualmente vivemos numa sociedade em que tudo se limita a trabalho, consumo, consumo e trabalho. A Moça Tecelã trabalhava exaustivamente, e seu marido que ela mesma “teceu”, visto que, descoberto seu poder, usufrui disto a seu benefício e a seus desejos de consumo. Na crônica “Carta a uma senhora”, a garotinha idealiza tudo que sua mãe ambicionaria ganhar, as coisas modernas daquele tempo, mas seu dinheiro não era o suficiente para comprar o tal presente para o Dia das Mães.
1) Se você tivesse o poder de tecer alguma coisa, o que você teceria?
2) No texto há a repetição de uma oração, identifique qual é esta oração. Depois de identificada a oração; Qual foi à intenção do autor em repeti-la?
3) “Linha clara para começar o dia” Por que o autor relaciona linha clara com começar o dia. Justifique.
4) Depois de descoberto o poder da moça Tecelã, qual foi o comportamento do marido? Justifique exemplificando com excertos do texto.
5) Qual é o tipo de narrador do texto?
6) Qual o espaço em que se passa a história? O tempo é cronológico ou psicológico? Justifique exemplificando com trechos do texto.
7) A moça Tecelã e o marido foram felizes? Tinham planos para o futuro? Justifique.
8) Cite as características das personagens.
9) Qual foi o conflito história?
10) Há no texto a presença de metáforas? Exemplifique.
11) A moça tecelã tinha o poder de tecer tudo que queria. Mesmo tendo tudo que desejava sentia-se realizada? Ela era feliz? Justifique.
12) A busca por bens materiais é uma realidade nos dias atuais. O que você acha disto?
Agora leia a crônica:
“Carta a uma Senhora”
Carlos Drummond de Andrade
“A garotinha fez esta redação no ginásio:
“Mammy, hoje é dia das Mães e eu desejo-lhe milhões de felicidades e tudo mais que a Sra. sabe. Sendo hoje o dia das Mães, data sublime conforme a professora explicou o sacrifício de ser Mãe que a gente não está na idade de entender mas um dia estaremos, resolvi lhe oferecer um presente bem bacaninha e fui ver as vitrinas e li as revistas. Pensei em dar à Sra. o radiofonoHi-Fi de som estereofônico e caixa acústica de 2 alto-falantes amplificador e transformador mas fiquei na dúvida se não era preferível uma TV legal de cinescópio multirreacionário som frontal, antena telescópica embutida, mas o nosso apartamento é um ovo de tico-tico, talvez a Sra. adorasse o transistor de 3 faixas de ondas e 4 pilhas de lanterna bem simplesinho, levava para a cozinha e se divertia enquanto faz comida. Mas a Sra. se queixa tanto de barulho e dor de cabeça, desisti desse projeto musical, é uma pena, enfim trata-se de um modesto sacrifício de sua filhinha em intenção da melhor Mãe do Brasil.
Falei de cozinha, estive quase te escolhendo o grill automático de 6 utilidades porta de vidro refratário e completo controle visual, só não comprei-o porque diz que esses negócios eletrodomésticos dão prazer uma semana, chateação o resto do mês, depois encosta-se eles no armário da copa. Como a gente não tem armário da copa nem copa, me lembrei de dar um, serve de copa, despensa e bar, chapeado de aço tecnicamente subdesenvolvido. Tinha também um conjunto para cozinha de pintura porcelanizada fecho magnético ultra-silencioso puxador de alumínio anodizado, um amoreco. Fiquei na dúvida e depois tem o refrigerador de 17 pés cúbicos integralmente utilizáveis, congelador cabendo um leitão ou peru inteiro, esse eu vi que não cabe lá em casa, sai dessa!
Me virei para a máquina de lavar roupa sistema de tambor rotativo mas a Sra. podia ficar ofendida deu querer acabar com a sua roupa lavada no tanque, alvinha que nem pomba branca, Mammy esfrega e bate com tanto capricho enquanto eu estou no cinema ou tomo sorvete com a turma. Quase entrei na loja para comprar o aparelho de ar condicionado de 3 capacidades, nosso apartamentinho de fundo embaixo do terraço é um forno, mas a Sra. vive espirrando, o melhor é não inventar moda.
Mammy, o braço dói de escrever e tinha um liqüidificador de 3 velocidades, sempre quis que a Sra. não tomasse trabalho de espremer laranja, a máquina de tricô faz 500 pontos, a Sra. sozinha faz muito mais. Um secador de cabelo para Mammy! gritei, com capacete plástico mas passei adiante, a Sra. não é desses luxos, e a poltrona anatômica me tentou, é um estouro, mas eu sabia que a minha Mãezinha nunca tem tempo de sentar. Mais o quê? Ah sim, o colar de pérolas acetinadas, caixa de plástico perolado, par de meias, etc. Acabei achando tudo meio chato, tanta coisa para uma garotinha só comprar e uma pessoa só usar, mesmo sendo a Mãe mais bonita e merecedora do Universo. E depois, Mammy, eu não tinha nem 20 cruzeiros, eu pensava que na véspera deste Dia a gente recebesse não sei como uma carteira cheia de notas amarelas, não recebi nada e te ofereço este beijo bem beijado e carinhosão de tua filhinha Isabel.”
Quem é?
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - Nasceu em Itabira (Minas Gerais) no ano de 1902, filho dos fazendeiros Carlos de Paula Andrade e Julieta Drummond de Andrade. Morreu em 1987 na cidade do Rio de Janeiro. Foi poeta, contista e cronista. Foi um escritor consagrado teve várias de suas obras publicadas em vários países.
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O que é Crônica?
A origem da palavra Crônica é grega, de chronos, que significa tempo. É um dos gêneros literários presente na literatura Brasileira. É um texto em que se narra um acontecimento do dia a dia. É caracterizada pelo humor, fatos sociais e retratos autobiográficos. Sua estrutura é simples e curta, a crônica tem com meio de comunicação o jornal. Temos vários escritores consagrados deste gênero, entre eles Carlos Drummond de Andrade, Paulo Mendes de Campos, Fernando Sabino e Rubem Braga.
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1) A expressão “É um ovo de tico-tico” é citada no texto, você a conhece? Qual expressão poderia ser utilizada para substitui-la? Justifique.
2) De acordo com o que você já estudou o texto a “Carta a uma senhora” têm características de uma crônica? Justifique analisando o texto, e relacionando com as características do gênero citado.
3) Encontramos no texto gírias como “É um estouro”, você já ouviu essa expressão? O que ela significa de acordo com o texto lido? Há alguma gíria atual que se assemelhe com essa? Justifique.
4) Observe no texto se há algum pronome de tratamento. Se sim Cite-os e porque a personagem usa estes pronomes. Justifique.
5) Isabel cita vários presentes que poderia dar á sua mãe, no final da história ela compra alguma coisa? Por que ela idealiza todos estes presentes? Justifique.
6) O texto é atual? Justifique sua resposta baseando-se no texto.
Vimos na crônica “Carta a uma senhora” de Carlos Drummond de Andrade e no conto a “Moça Tecelã” de Marina Colasanti, que o consumismo se faz presente em nossos dias, atualmente vivemos numa sociedade em que tudo se limita a trabalho, consumo, consumo e trabalho. A Moça Tecelã trabalhava exaustivamente, e seu marido que ela mesma “teceu”, visto que, descoberto seu poder, usufrui disto a seu benefício e a seus desejos de consumo. Na crônica “Carta a uma senhora”, a garotinha idealiza tudo que sua mãe ambicionaria ganhar, as coisas modernas daquele tempo, mas seu dinheiro não era o suficiente para comprar o tal presente para o Dia das Mães.
Aprendemos o que é crônica e sua estrutura, sabemos que estes textos se caracterizam por causa de sua linguagem despretensiosa, trabalha com temas simples. As crônicas tratam da realidade, do cotidiano. Estudamos o conto a Moça tecelã de Marina Colasanti, fizemos a interpretação do texto.
(a) Releia a crônica “Carta a uma senhora” de Carlos Drummond de Andrade.
(b) Faça uma lista de acontecimentos vividos ou situações importantes pelos quais você tenha passado. Você pode se basear nos textos desta unidade.
(c) Escolha um acontecimento.
(d) Escolha um titulo, seja criativo, essa parte é muito importante.
(e) Depois de escolhida a situação e o titulo, comece a produzir sua crônica.
(f) Lembre-se das características do gênero, a crônica é um texto breve, tem como marca, um fato ocorrido pelo autor do texto.
(g) Com base no que você já estudou, atente-se nos tempos verbais, use o pretérito que identifica o passado. Utilize marcadores temporais, como por exemplo, “quando eu fui”, “uma semana depois”, “três meses antes” entre outros.
(h) Por mais absurda que seja a situação utilize elementos de narração, verbos na primeira pessoa. Detalhe as ações, use o maior numero de elementos que a língua portuguesa oferece.
(i) Você pode usar o humor, a sensibilidade, a escolha é sua. A crônica não se restringe ao um mero acontecimento. É gênero rico que permite o autor ir além do que um breve relato. Lembrando que cada um de vocês desenvolverá um estilo próprio de escrita.
(j) Feita a crônica, agora produza uma ilustração de seu texto. Faça um desenho que irá complementar sua crônica.
(k) Após a conclusão do trabalho, faremos um livro com todos os textos e ilustrações, que será apresentado no sarau da escola.
Mãos à obra!
SUGESTÃO
Nas Entrelinhazinhas
Sugestões de livros de crônicas, contos de fadas e dos autores que conhecemos na unidade Nas Entrelinhazinhas.
Livro de contos de Fadas - Uma ideia Toda Azul – Marina Colasanti.
1979, 2006 - Uma Ideia Toda Azul, Global (Contos de Fadas).
Coleção - Para Gostar de Ler - Crônicas - Editora Ática Volume 1-5. Autores: Paulo Mendes Campos, Ruben Braga, Carlos Drummond de Andrade e Fernando Sabino.
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SUGESTÃO
Este vídeo é inspirado no conto " A Moça Tecelã" de Marina Colasanti. O conto foi trabalhado na seção Nas entrelinhazinhas.
Livre adaptação
do conto "A Moça Tecelã" de Marina Colasanti produzido para o VI
Festival de Cinema Integrado UPF.
Ganhador do
Prêmio de Melhor Direção de Arte e Melhor Filme.
Dirigido por:
João Pedro Toson e Henrique Rosset.
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